Instituto de Investigação Científica Tropical | 10 de abril de 2023
A equipa do projeto TRANSMAT realizou, no dia 10 de Abril de 2023, uma visita à coleção etnográfica do antigo Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT). Esta coleção, que se encontra em reserva visitável no Palácio dos Condes da Calheta, ligado ao Jardim Botânico Tropical, tem sido alvo de estudos de proveniência pela equipa do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa (MUHNAC-UL). Os objetos, com múltiplas proveniências (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, Timor) foram incorporados de diversas formas nas coleções do antigo Instituto, tendo uma parte significativa sido recolhida no âmbito de missões científicas coloniais. Entre estas, destacam-se a Missão Antropológica a Moçambique, com uma série de campanhas realizadas entre as décadas de 1930 e 1950 por Joaquim Rodrigues dos Santos Júnior, sob a orientação do seu mentor, A. A. E. Mendes Correia; e a Missão Antropobiológica de Angola, chefiada por António de Almeida na década de 1950.
O edifício e o jardim são testemunhos do complexo passado colonial português, tendo sido palco de vários momentos significativos que contribuíram para forjar a narrativa oficial e dominante sobre o mesmo. O Jardim Botânico Tropical foi um dos polos da Exposição do Mundo Português de 1940, o mais emblemático momento de propaganda colonial levado a cabo pelo Estado Novo, do qual ainda existem vestígios materiais. Entre estes, destacam-se, em particular, a coleção de bustos com representações estereotipadas de populações africanas, ou os painéis de madeira em baixo relevo expostos no átrio do Palácio com cenas coloniais alusivas a atividades agrícolas e piscatórias.
Estes espaços e artefactos, desde os objetos etnográficos às espécies vivas que habitam o jardim, atualmente ao cuidado do MUHNAC-UL, têm sido alvo de estudo, num esforço por parte do Museu de reflectir de forma crítica e transparente sobre a sua história colonial, redefinindo as narrativas que são construídas e comunicadas sobre este património.
A visita foi guiada pela curadora das coleções de arqueologia e etnografia, Ana Godinho. Teve início na Xiloteca de madeiras tropicais, passando pelas coleções etnográficas e por fim pelo Jardim Botânico Tropical.